segunda-feira, 19 de abril de 2010

A energia que contagia




Hoje foi um dia interessante e cheio de emoções. Gabriel acordou bem, tomou seus remédios (2 em jejum), colocou seu uniforme, tomou sua vitamina, escovou seus dentes numa boa e foi para a escola. Maravilha! Combinei com ele de levá-lo pra cortar o cabelo caso ele se comportasse. Pois é, para quem não sabia essa tarefa é um dos grandes prazeres dele. Adooora cortar o cabelo. Tanto que no mesmo dia que corta, põe a mão e diz: Mamãe o cabelo já cresceu, tem que cortar de novo! Isso tudo tem um motivo: o salão tem um video game para distrair o cliente enquanto dá um trato no visual. Como ele de bobo não tem nada, aproveita cada minuto entre as tesouradas na juba. É uma diversão. O duro é tirar depois. Dá um show. O Marcos já sabe do "the end" e finge que o CD do jogo tá com problema ou dá outra desculpa qualquer, porque meus argumentos não servem. Bem, ele chegou do colégio, tirou o uniforme, almoçou tudo e escovou os dentes como nunca. Tudo parecia até cronometrado de tão redondo. Fomos em direção ao salão e o acesso à rua estava interditada, por um caminhão da CEB e eu tinha que dar uma volta por outro caminho. Ele então começou a gritar e chorar achando que eu tinha desistido. Isso acontece comumente quando se planeja algo e de repente precisa ser mudado. Os autistas tem fixação por trajetos para determinado lugar e não admitem improvisos ou mudanças repentinas na programação. Tanto que a antecipação é uma grande aliada nossa. Tudo o que formos fazer devemos antecipar. Isso dá conforto e tranquilidade aos autistas, pois as coisas estão sob seu domínio e seu conhecimento. E é também uma grande vilã porque em situações como essa não havia explicação que coubesse. Não adiantou explicar, pois nessa hora parece que fica surdo e não entende nada do que falamos. Dei uma volta na quadra, enquanto isso ele foi chorando até que se acalmou. Cheguei no prédio comercial e percebi que todas as lojas estavam no escuro. Já imaginei a cena na minha cabeça e não deu outra, o salão estava fechado, e com isso não tinha video game também. Como o imaginado, não aceitou de bom grado e tive que fingir ir embora com o carro pra ele poder se convencer de que não adiantava ficar ali. Consegui com muito custo colocar o cinto de segurança e ir pra casa. É claro que ir pra casa não estava nos planos dele, então foi mais um motivo de chutes e beliscões.  Eu disse que estava triste por ele não ter cortado o cabelo também, mas acredito que por não entender a situação, ele me culpava, porque falava repetidamente que não gostava de mim. Ele, atualmente, tem usado essa frase quando está bravo com alguém. Quando chegou em casa jogou tudo que achava no chão e bateu algumas vezes a porta do seu quarto. Fui pro meu quarto e ignorei. Fingi que estava dormindo quando ele entrou e vi que ele se surpreendeu por eu estar indiferente. Então parou com seu ataque de raiva. Falei que ia dar todos os dvds e a bicicleta, afinal ele tinha jogado tudo no chão. Para minha surpresa ele falou que não era pra eu dar porque ele mesmo iria guardar. Coisa boa! Progressos acontecendo. Percebo que dando um tempo pra ele se acalmar "a ficha cai" e ele se dá conta da bobagem que fez. Depois disso fui pro computador para forçar uma negociação. Ele disse que queria brincar também e eu falei que ele poderia brincar somente depois de tomar banho e se arrumar para ir pra psicoterapia. E não é que deu certo de novo.  Obedeceu e ganhou 10 minutos no computador. Dei o marcador no relógio para o final do tempo e ele na hora combinada desligou o computador sozinho. Ufa! Fomos civilizadamente para o consultório da Cíntia, sem reclamações e choro. Deu tudo certo. Fez seu programa direitinho e com louvor. Pensei: fora o salão apagado, tudo estava correndo bem. Fomos pegar o Gustavo no trabalho, que havia combinado de comer um churrasquinho com amigos, no final do expediente. Fomos juntos. Gabriel comeu um espetinho de carne (que por sinal estava muito bom). Daí veio a péssima idéia de dar guaraná, pois ele estava com sede e o seu suco havia acabado. Pronto, tudo desandou. O comportamento se alterou. Começou a chutar, beliscar e a puxar meu cabelo. Infeliz aquele que criou o guaraná com todos os seus corantes e conservantes. Chegou em casa dormindo, mas não totalmente. Para nosso espanto ele começou a gritar coisas desconexas e a esmurrar a parede. Fiquei assustada. Quanto mais a gente falava mais ele ficava alterado. Pois é gente, isso serviu pra nos mostrar uma coisa: a dieta inadequada é uma gatilho crucial dos comportamentos indesejáveis. Serviu pra nos convencermos de que precisamos ser firmes na dieta natural e orgânica. Caso contrário vamos ter essas surpresinhas rodando nossas vidas. Infelizmente o slogan do refrigerante brasileiro me contagiou mesmo, mas não como eu gostaria. Sobrou pro Guaraná. Até mais.

2 comentários:

  1. Estou amando seu blog! Realmente refrigerantes são venenos pras nossas crianças, quer dizer, pra qualquer um! Eu parei de tomar, Lu tbm, quando ele toma escondido é uma bomba.... ele bate em todo mundo, fala palavraão e etc...


    Sucos são saudaveis e se quiser dar "cara" de refri é só misturar na água com gás.

    Vai lá conferir quem ganhou o sorteio do livro! Beijoooos!

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  2. Oi Karla, fiquei muito feliz em saber que está curtindo o blog e também por ter sido sorteada. A minha amiga Marilza está muito feliz e ansiosa para receber o livro. Ela se arrepiou de emoção com a notícia. Como já falei no blog de vcs: Parabéns pela iniciativa e pelo sorteio. Adorei ouvir meu nome falado pelo Lu e suas palmas também. Um beijo pra vocês. Bjs

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